sábado, 15 de outubro de 2011

Comunicação "interdimensional"

Há 20 anos atrás, num domingo de Agosto, a jovem estava na terra de origem  da  mãe,  algures no centro de Portugal. Na véspera tinha sido o casamento da prima C. e como é habitual nestas festas, há comida e diversão a valer. Começa-se logo cedo na casa dos noivos, com os convidados respectivos, prolongando-se pelo dia inteiro. No outro dia a família mais próxima ainda vai "ajudar" a dar cabo das sobras. 
Como convidada da noiva lá estava ela a demandar mais umas iguarias. Durante a tarde já estava um pouco cansada e não conseguindo engolir nem mais um pedaço de pudim,  resolveu voltar para a casa do seu avô para relaxar um pouco, enquanto a família bravamente continuava. 
Sentou-se na pequena sala com uma revista antiga, que era a  única leitura que lá havia e gostou de estar finalmente a saborear o silêncio fresco, sozinha, com o sol a entrar de mansinho pela janela, depois de tanta agitação. Ouve passos vagarosos e nítidos no soalho do corredor. Chamou pelo avô e os passos cessaram de repente. Achou estranho, levantou-se, vasculhou todos os cómodos. Não encontrou ninguém, sabia que não encontraria. Saiu para o quintal e estava tudo calmo naquela quente tarde de verão.Tudo, menos o seu coração, que batia apressado dentro do peito, porque no seu íntimo pressentiu que aqueles passos não foram produzidos por algo material, sentiu, porque conhecia a sensação, o arrepio... mas desta vez foi diferente, identificou qual era a origem do sinal, era de sua avó querida, que tinha falecido uns anos antes. Por um lado estava assustada e surpreendida, por outro arrependida por não ter esperado, e as saudades invadiram-na, as lembranças de infância sucederam-se rapidamente na sua cabeça, qual caleidoscópio. Entretanto o seu avô chegou e ela perguntou-lhe, mesmo sabendo qual era a resposta, se ele não tinha lá estado há uns minutos atrás e evidentemente respondeu-lhe que não. Os seus olhares encontraram-se e ele sabia porque ela lhe perguntara aquilo, porque conhecia bem os "movimentos" daquela casa. 


A vida passou para aquela jovem e agora é uma mulher em plena maturidade. Hoje em dia as comunicações desse tipo cessaram. A vida preenchida, as preocupações, a inexistência de tempos em branco não permitem que haja "rede". 
Contudo, com essas experiências, aprendeu que pode contar com "quem" está em outra dimensão, sabe que conseguem se comunicar mais subtilmente sem usar a linguagem, pelo coração e pelo cérebro. Sente que existe algo mais, alguns lhe chamam alma, espírito, energia, centelha, não conhece o nome, só entende que esse algo está dentro dela, ultrapassa a barreira física e perdurará além da morte.

A receita, não poderia ser outra:




Foi esta a minha participação na 8ª fase da Blogagem Colectiva Fases da Vida, Vida para além...

12 comentários:

  1. Lina, é bom encarar essa ajuda de modo tranquilo, sabendo que não estamos sós. Dizem que os que se vão primeiro, ajudam a receber os que vem depois. Essa possibilidade conforta.
    Comidinha de vó só pode ser coisa boa!
    Grata por estar conosco em quase todas as fases da coletiva.
    Bom final de semana!

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  2. Ôpa, fazendo uma resalva importante: você participou de todas as fases!!! Que coisa maravilhosa!
    Bjs.

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  3. Lina,
    essa sensibilidade que nos cerca não precisa de confirmação.Sentida, pressentida e sabida, provoca-nos a certeza de que a rede é infinita e passível de conexões.
    Receita de carinho perdura por muitas e muitas gerações.
    Bjos e bom domingo,
    Calu

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  4. Lina querida, adorei seu texto e essa ligação espiritual linda que vc tem com sua vó, isso as vezes assusta, mas é gratificante e nos dá certeza que um dia encontraremos nossos entes queridos, e também a certeza de que não estamos aqui por acaso, e que principalmente estamos sempre ligados e conectados com eles. O prato não poderia ser o melhor para o tema de hoje. Bjos querida...ótimo domingo

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  5. Lina!

    Para além da tua partilha de algo íntimo e importante, afectivo, verdadeiro, pela qual me sinto lisongeada pela confiança e amizade para connosco, tu és uma poetisa! Uma escritora! É linda a tua forma de comunicares.

    Engraçado que a minha participação é também uma "comunicação interdimensional" como a tua... são coisas que nos aproximam!

    Ah! E não estás sem rede! Apenas às vezes não ouves o "telemóvel", podes ir lá aumentar um pouquinho o som (ou então reduzir o "barulho de fundo")... :)

    Um grande abraço (e agora que a BCFV acabou não quer dizer que deixemos de nos encontrar por aqui e por sabe-se lá mais onde...)

    Isabel

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  6. Que emoção Lina, seu texto foi explêndido e profundo.
    Mesmo não havendo mais "rede" com certeza os laços são eternos!!!
    Belíssima participação!
    Bjuss!!!

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  7. Tinha que ser vó Luiza! Minha filha sentia, agora não mais, também o vulto da vó Luiza, minha mãe! Muito linda a sua história, tão real e verdadeira que deu gosto de ler e tristeza quando ela terminou, de tão bem narrada. Senti grande prazer! Beijão e por certo nos veremos por aqui e sabe-se Deus aonde.

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  8. Legal esse conto, quantas pessoas não passam por esse tipo de experiência! Eu tive uma vivencia parecida, não com minha avó e sim com alguém desconhecido, q cheguei a ver. Experiência interessante, questionadora, q me levou a buscar explicações. Hoje tenho as "minhas" explicações, q me ajudam a ver a vida de outra forma e a rever meu comportamento. Muita paz!

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  9. Olá Lina, há quanto tempo! As coisas por aqui têm andado complicadas, nem tem havido tempo para as visitinhas. :)
    Esta história dá que pensar. Eu nunca vivi nada parecido, mas os meus pais contam-me "histórias" que têm a ver com a minha avó paterna (que não cheguei a conhecer) e que até têm a ver comigo enquanto bebé, que me arrepiam. Aí está um tipo de comunicação em que acredito, mas que confesso me assusta um pouco.
    Bjs

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  10. Lina, ótimo seu jeito de escrever sobre sua experiência, adorei o texto. E sua avó com certeza, onde estiver, se sentirá homenageada com a receita que escolheu :-) Beijos.

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  11. Olá, querida, desejo encontrá-la assim hoje:

    Ao sol da manhã
    uma gota de orvalho
    precioso diamante.
    (Matsuo Basho)

    Infelizmente não pude comparecer ontem... mas meu coração esteve com VC... Creia, amiga!!!

    Lindíssimo o que disse:
    Se comunicar mais subtilmente sem usar a linguagem, pelo coração e pelo cérebro... RESSURREIÇÃO PURÍSSIMA!!!
    Excelente colocação!!! Parabéns, amiga!!!

    "O orvalho não se reinventa em metáforas prenhes de ilusão… pois será sempre orvalho"…
    BlueShell

    Deus te abençoe por ter caminhado por 7 meses conosco...
    Seja feliz e abençoada!!!
    Um bjm fraterno de paz e o meu carinho de sempre...
    Conte comigo também!!!

    http://espiritual-idade.blogspot.com/

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  12. Amiguita Lina,
    levei todo o sábado contigo no pensamento e aguardava ansiosa a comunicação interdimensional.
    Acredito que o "parto(icipação)" tenha sido dificil e que te tenham assaltado dúvidas se devias ou não expor-te tão intensamente.

    Esta é uma fase forte, por isso chegaram poucos ao final. É uma fase para pessoas maturas que já passaram por "mortes" em vida e que mantém ligação (consciente ou inconsciente) com o outro lado.

    Amei o formato lirico que escolheste para nos brindares com a tremenda revelação.

    Este mundo barulhento e poluido diminui nossas capacidades de clariaudição, clarividência, clariolfatismo, clarisciência...

    Cabe-nos a nós afastarmo-nos das "distrações" fisicas para conseguirmo-nos reconectar ao nosso Eu superior (alma).
    Beijinhos espirituais.
    Rute

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