quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Cortiça é verde

Resolvi enredar-me nesta Teia Ambiental, e não poderia ser de outra forma, depois do convite irrecusável da Rute, do blogue “ambiactivo” Publicar para Partilhar. A organização desta bela iniciativa partiu da Flora e do Gilberto e existe desde Maio/2010 em todos os dias 7 de cada mês. Este tema toca-nos a todos, inconscientes ou conscientes de que o modo de vida que levamos afecta directamente a existência do nosso grande lar terrestre.

A inspiração para esta Teia surgiu-me através de uma garrafa de vinho (não foi a beber, ah…) e como moro em Santa Maria da Feira, o contacto com pessoas ligadas à industria transformadora da cortiça é frequente.

Normalmente associamos o crescimento económico a um processo de destruição do meio ambiente pela utilização desmedida das matérias-primas naturais, gerando inúmeros problemas (poluição, desertificação, alterações climáticas) geralmente com maior ocorrência nos países pobres.
Neste caso em especial, tal não acontece e pelo contrário a manutenção da floresta de sobreiros em bom estado é essencial para a sobrevivência desta indústria de grande importância económica para Portugal.
Resolvi pesquisar para saber um pouco mais sobre esta actividade e dar-vos a conhecer um exemplo positivo de aproveitamento de uma dádiva da natureza, que além de gerar um grande desenvolvimento económico, contribui para a preservação de outras espécies vegetais e animais associadas.

O que é a cortiça?
Imagem retirada do site www.cm-grandola.pt
 
A cortiça é a casca do sobreiro (Quercus Suber L), uma árvore nobre com características muito especiais e que cresce nas regiões mediterrânicas como Espanha, Itália, França, Marrocos, Argélia e, sobretudo, Portugal, onde existem mais de 720 mil hectares(1 hectare=10000m2) de montado de sobro.


É uma árvore espantosa, de grande longevidade e com uma enorme capacidade de regeneração. Consegue viver em média 150 a 200 anos, apesar dos muitos descortiçamentos que lhe fazem ao longo de sua existência: cerca de 16 intercalados por períodos de nove anos. 
Imagem retirada do site www.portugalambiente.com


Imagem retirada de Wikipedia


 Para além do seu valor ecológico, o sobreiro é uma árvore notável, na medida em que todos os seus componentes têm utilidade económica. Eis alguns exemplos:
-A bolota, fruto do sobreiro, além de ser utilizada para efeitos de propagação, também serve como forragem para animais e fonte de óleos culinários;
-As folhas da árvore são utilizadas como forragem e fertilizante natural;
-O material resultante da poda das árvores e os exemplares mais decrépitos fornecem lenha e carvão vegetal;
-Diversos produtos químicos são produzidos a partir dos taninos e dos ácidos naturais contidos na madeira.
Imagem retirada do site www.apcor.pt
Mais de cinquenta por cento da casca do sobreiro (cortiça) é utilizada no fabrico de rolhas, incluindo as de cortiça natural para garrafas de vinho, as de champanhe, as técnicas, as rolhas para vinhos de alta graduação e espirituosos, e pequenas rolhas utilizadas para fins diversos (perfumaria, medicamentos). Num processo de transformação verticalmente integrado, a utilização da cortiça não gera resíduos. Os desperdícios de cortiça provenientes do processo de produção de rolhas são reduzidos a granulados e reutilizados no fabrico de rolhas técnicas, de aglomerados industriais, de revestimentos de solos, de isolamentos, de utilidades decorativas, acessórios, roupas… Até mesmo as finas partículas de pó de cortiça são recolhidas e usadas como combustível. A cortiça pode ainda ser combinada com outros materiais, como a borracha e a fibra de coco.

A cortiça possui qualidades únicas e inigualáveis: muito leve, impermeável a líquidos e a gases, elástica e compressível, um excelente isolante térmico e acústico, combustão lenta e muito resistente ao atrito. É um material cem por cento natural, reciclável e biodegradável, três atributos imprescindíveis numa sociedade como a actual que se deseja cada vez menos poluída e amiga do ambiente.

O GREEN CORK é um Programa de Reciclagem de Rolhas de Cortiça desenvolvido pela Quercus, em parceria com a Corticeira Amorim, a Modelo/Continente e a Biological. Tem como objectivo não só a transformação das rolhas usadas noutros produtos, mas, também, com o seu esforço de reciclagem, permitir o financiamento de parte do Programa “CRIAR BOSQUES, CONSERVAR A BIODIVERSIDADE, que utilizará exclusivamente árvores que constituem a nossa floresta autóctone, entre os quais o Sobreiro, Quercus suber.
O montado
Imagem retirada de www.apcor.pt
Tal como os vinhedos do vale do Douro ou a mata Atlântica no Brasil, as florestas de sobreiros são um ecossistema muito particular, de delicado equilíbrio e que subsiste apenas na bacia mediterrânica. Considerado património nacional português, há séculos que o montado de sobro é legalmente protegido (Decreto-Lei n.º 169/2001), sendo proibido o seu abate e incentivada a sua plantação e exploração, uma iniciativa em que Portugal foi pioneiro.



Imagem retirada de www.apcor.pt
Para além da sua importância económica, o montado assegura ainda uma grande biodiversidade natural, incluindo fauna selvagem, pastagem e arbustos de ervas aromáticas. Entre os animais mamíferos encontrados nas florestas de sobreiros incluem-se lebres, doninhas, lobos, genetas, javalis, veados e (ainda) alguns linces ibéricos, uma espécie quase em extinção e que é urgente proteger. As florestas de sobro da Península Ibérica constituem também o habitat ideal para milhões de aves, tais como o Falcão Peneirereiro, o Mocho Galego, o Picanço Real, Cegonhas-pretas, Águias ibéricas, milhafres, Abutres negros, Piscos, Tordos, Tentilhões e Pica-paus, bem como para as 60.000 Garças-reais que anualmente chegam do norte da Europa.

Um super-herói vegetal:O “Assobiador”
O “Assobiador” é o mais antigo e mais produtivo sobreiro existente no mundo, assim chamado devido aos numerosos pássaros canoros que o habitam. Foi plantado em 1783, perto da vila de Águas de Moura, na região portuguesa do Alentejo. O “Assobiador” tem mais de 14 metros de altura e 4,15 metros de circunferência. A sua primeira extracção teve lugar em 1820, e desde então já lhe foram feitas mais de 20 extracções. A extracção de 1991 produziu mais de 1200kg de cortiça - mais do que a produção registada pela maioria das árvores ao longo de toda a sua vida. Esta extracção, sozinha, deu origem a mais de 100.000 rolhas para garrafas de vinho. A última extracção, realizada em Junho de 2000, foi menos produtiva, conseguindo ainda render uns impressionantes 650 quilogramas, o equivalente a 10 vezes a produção de qualquer sobreiro vulgar.
Imagem retirada de http://lugardoconhecimento.wordpress.com

Bem, agora começo a ter fome! E já que pelo menos eu e uns quantos que estão a ler isto, não temos o privilégio de fazer um piquenique à sombra de um sobreiro, num lindo montado alentejano, deixo cá uma receita da gastronomia desta região, e sempre podemos voar com a imaginação e fazer de conta que estamos nesta belíssima zona de Portugal, a comer uma deliciosa fatia de : 

Bolo de requeijão à moda de Viana do Alentejo
Ingredientes:
250grs de requeijão
150grs de farinha de trigo
200grs de açúcar
50grs de manteiga
4 ovos inteiros
raspa de limão
1 colher (chá) de canela em pó
1 colher(sobremesa) de fermento em pó 

o "nosso" requeijão
Preparação:
Passar o requeijão por um passador de rede (peneira).
Bater os ovos com o açúcar até ficar uma massa esbranquiçada e volumosa.
Juntar a canela, a manteiga derretida (mas não quente) em fio, a raspa de limão e o requeijão, aos poucos, e alternar com a farinha em chuva.
Envolver bem até ficar homogéneo e misturar o fermento com movimentos leves.
Colocar o preparado numa forma untada e enfarinhada e cozer no forno 160º por mais ou menos 30 minutos. Verificar com o palito.


 Saudações ambientais a todos! E até a próxima Teia, no dia 7 de Maio!


20 comentários:

  1. Adorei este post, é sempre bom saber um pouco mais. Um abraço.

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  2. É com muita alegria que encontro sua excelente postagem na nossa Teia Ambiental !

    Quanta informação interessante sobre a cortiça, esse material ecologicamente correto, e muito útil !

    Parabéns pela postagem, Lina !
    Beijo

    PS: vou colocar o link no meu blog

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  3. Querida Lina, adorei seu texto e acabei de publicar o meu agora aos 50 minutos do dia 07. O seu texto foi muito interessante Lina, não sabia de quantos beneficios a cortiça possuia. Adorei essa iniciativa da Rute, faz com que aprendemos muitas coisas da qual nós e muitos outros não sabem. Parabéns pelo post. Ótimo
    Agora vamos ao seu bolo, ora,ora, o que temos aqui um Bolo do Alentejo, pela foto com certeza ficou delicioso. Levei a receita...bjocas amiga...boa noite

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  4. UAU!
    Que post espetacular. E as fotos do bolinho estão lindérrimas! Ainda ontem pensava numa forma de aproveitar uma promoção de requeijão, pois no supermercado estavam a vender 2 requeijões pelo preço de um, já que se encontrava em final de prazo.
    Detesto saber que algo será desperdiçado, salto logo em salvação do produto prestes a ficar fora de validade!

    Bem, mas a cereja no topo do bolo foi a frase: "A inspiração para esta Teia surgiu-me através de uma garrafa de vinho" - soltei uma enorme gargalhada ao ler isto, porque foi inevitável para mim ser "malandreca" :)

    Adorei a tua escolha de tema, conheço bem o assunto e sei a importância do montado de sobreiro. Fizeste muitissimo bem em divulgar. Em tempos escrevi sobre isso para o Jornal Ágora do CCC. Se quiseres lê aqui, é um texto pequenino:
    Campanha Rolhinhas

    Também já vi acessórios de moda feitos em cortiça, como malas, carteiras e sapatos em feiras de artesanato mas nunca encontrei vestuário. Essa saia é linda!!!

    Minha amiga, esta tua participação é uma benção para a nossa Teia. Muito obrigada pelo empenho!
    Resultou num artigo completissimo!
    Mil beijinhos,
    Rute
    P.s.Desta vez não fui notivaga...o post estáva agendado para as 00:01 e eu a dormir desde as 23:30, ih ih ih.

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  5. Adorei o seu post. Bem estruturado, bem documentado, com um tema interessante e útil, e a terminar com chave de ouro, com uma sugestão excelente. Parabéns!

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  6. Parabéns pela postagem, adorei!
    Amei a receita do bolo, ficou lindo e saboroso com certeza!
    Beijinhos,
    Andréa...

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  7. Querida Lina,

    Puxa vida aprendi MUITO com sua postagem.
    Quantas novidades para mim, foi um grande aprendizado.
    Para tudo na vida, existe uma forma muito mais ecológica de SER, basta força de vontade e abrir a mente.
    Sua receita é ótima, deu água na boca... adoro requeijão!
    Parabéns querida, foi uma excelente participação na nossa Teia, adorei!!!
    Beijos no seu coração!

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  8. O post ficou ótimo.
    Que boa iniciativa esta blogagem Teia Ambiental.
    Ficamos conhecendo muita coisa nova.
    O bolo é sem comentários, deve ser delicioso.
    Beijos

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  9. Adorei a sua visita ao meu blog. E, mais ainda, as informações dessa postagem. O sobreiro é um árvore que espero um dia conhecer ao vivo, principalmente esse centenário que você citou. bom saber que eles estão preservados por aí.

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  10. Bom até este momento estou aprendendo muito...e nada como aprender com várias pessoas ao mesmo tempo´, partilhando.Tenha uma noite linda...

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  11. Texto maravilhoso onde aprendi muito.Obrigada!
    Esta receita de bolo com um café quentinho...hummm
    pura delícia!abçs e paz.

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  12. Parabéns pelo post Lina, muito interessante e bem conseguido!!!
    Beijinhos e bom fim de semana.

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  13. Lina, obrigada pelos comentários em meu blog.
    Muito interessante essa matéria, não tinha idéia de como era feita a rolha. Ignorância total, não sabia q se extraia de uma árvore. Aprendi muito com seu blog. Já me tornei seguidora. Muita paz!

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  14. Adorei este assunto...
    E ainda saio de água na boca...
    delicia estar aqui...

    também sou da teia... beijos, cá no Brasil estamos caminhando a passos miúdos, mas chegaremos lá...

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  15. Adorei este post e como futura técnica de saude ambiental, daqui mais ou menos a 3 meses se tudo correr bem , acho que estes meios servem para mudar mentalidades. Agora incentivou-me a postar mais sobre o que faz o meu curso para alem das minhas receitas :) vamos ter novidades concerteza afinal ah espaço para tudo.
    como custumamos dizer no nosso meio
    saudações ambientais :) azeite e canela

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  16. Ola Idalina
    Sempre a surpreender... fopi assim que fiquei surpreendida pela positiva. Gostei muito do post.
    Obrigada por nos deixar apreender contigo
    Beijitos Carla

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  17. Não imaginava de onde vinha a cortiça! Pensava ser algum resto de serragem prensada que tivesse um tratamento resinoso para dar a textura macia. No mais, tenho visto vinhos sem rolhas, ditos "ecológicos" - A trampa de rosca, muito estranho! Beijus,

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  18. Excelente postagem minina!!!!Aprendi de montão!Imagina nunca tinha me perguntado de onde vinha a cortiça!!Aprendi tudo agora e aquele vestido lá postado é dezzzzzzzzzzz...(mulher ,já viu né?)rsrsrsr...Beijos no seu coração e obrigada pela visita e pela aula.

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  19. E não falei da receita que deu água na boca e tô levando!!!

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  20. Olá
    Sou Portuguesa residente no Brasil. Esse nosso requeijão é simplesmente maravilhoso. Um café uma fatia de pão de ló com requeijão é tudo de bom. Saudades.

    Bjs

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