sábado, 8 de outubro de 2011

De onde vem a nossa comida?

Dias preenchidos...Cidades superlotadas...Caos! Final de uma sexta feira: fazer compras numa grande superfície, onde tudo vem embalado, a salada já lavada e ensacada, a fruta brilhante de parafina ou triturada acondicionada em caixinhas, o leite pasteurizado, o peixe congelado embalado, a carne em cuvetes plastificadas. Chegar em casa com montes de sacos plásticos, colocar qualquer comida pronta no microondas e comer em frente à uma televisão aos berros.  Este é um cenário vivido por milhares de pessoas em várias partes do mundo. Se eu me materializasse em frente à uma família que tivesse vivido um fim de sexta feira desses e perguntasse: De onde vem a vossa comida? Acho que pelo menos me olhariam com estranheza,  talvez me atirassem com uma lata de refrigerante(espero que vazia!). 
É triste pensar que a maior parte das pessoas, ao se alimentar, nem faz a mínima ideia da origem do que está a comer, de onde veio ou como foi feito. Quanto mais processado o alimento, mais fácil de ingerir, menos trabalho a manipular e menos tempo para pensar nos milhares de calorias aportados. Esta forma de se alimentar é uma espécie de escravidão hipnotizadora, pois a indústria de alimentação tem os seus pozinhos de pirlimpimpim para que as pessoas se tornem cativas do seu sabor e enriquecer largamente o bolso dos seus donos.
Por outro lado, em outras partes do mundo, outras  pessoas morrem à fome, numa brutalidade atroz,  hipnotizados também,  e atrofiados pela carência, incapazes de agir da melhor forma para combater o seu fim. 
Ambos os extremos são perigosos, levam à morte  aos milhares, mais dia menos dia! 
E mesmo quem está a meio da escala,  pode facilmente descambar para um dos extremos, hoje em dia tudo é possível, com a rapidez com que as situações se modificam.

No meio disto tudo, sinto-me uma pessoa privilegiada. Da maior parte dos alimentos que consumimos cá em casa é possível saber a sua origem. Mas sei que as minhas escolhas também fazem a diferença! E nem sempre é fácil ou cómodo, é preciso perder tempo, andar bem informada e até deixar de comer o que apetece, simplesmente porque não é época ou é potencialmente danoso para o ambiente e para a saúde.

Vou então falar um pouco das minhas opções:
Os produtos hortículas e frutas - É a maior fatia da nossa alimentação. Consumo normalmente produtos da época ou que foram congelados em tempos de fartura e quase todos são de produção familiar, da horta dos meus pais ou sogros(tenho muita sorte por isso felizmente!) O restante compro da Dna.Manuela que é uma produtora local certificada de produtos biológicos e pouquíssimo resta para comprar além disso. Se algo faltar, procuro quase sempre os mercados onde há produtos locais. Com as frutas é um pouco mais complicado, tento que sejam da época ou nacionais ou o extremo inverso compro fruta importada de locais mais pobres, que precisam daqueles poucos cêntimos que ganham para garantir, não uma vida melhor, mas a própria sobrevivência. Comecei a utilizar seriamente esse critério, depois do que li neste livro(obrigada, Rute!). Mesmo que cometa alguma extravagância neste campo, comprando uma fruta tropical rara ou algum legume fora de época sei que pelo menos, com toda a certeza, é um produto saudável.

Peixe e carne - ultimamente não tenho ingerido, mas o resto da minha família sim, aqui é a parte mais difícil e trabalhosa das compras. Peixe, só pescado no mar ou rio, de aquacultura, só se for por engano, prefiro levar menos quantidade do que comprar mais barato, a aquacultura normalmente é uma forma muito poluente e gravosa para o ambiente e bem estar dos animais marinhos. Verifico os peixes que não estejam na lista vermelha. E os melhores peixes, por incrível que pareça, são os mais baratos: a sardinha, o carapau, e não pertencem à lista vermelha! Com a carne, ainda é mais complicado. Carne vermelha, tento que o consumo seja o menor possível. Frangos e perus, evito sempre que posso, comprar os de criação intensiva, o que nem sempre é fácil, principalmente no caso dos perus. Alguns animais simplesmente estão riscados da lista: como vitela, leitão, cabrito, coelho, codorniz, perdiz e caracóis.
Ovos - tento consumir apenas os das galinhas criadas pelos meus pais e sogros , que vivem de forma melhor à solta e alimentadas com produtos naturais, e quando não há(no Inverno), compro ovos biológicos à venda nos hipermercados.
Alimentos processados - não compro pão de forma, aqui em casa o pão consumido ou é integral ou de mistura, pão totalmente branco simplesmente não entra! Bolachas, depois da criança nascer foi difícil evitar, mas tento que sejam das mais simples, Maria, tostadas ou integrais ou biscoitos caseiros. 
Café - Cá em casa uso café de filtro desde sempre, sem querer optei pelo método mais ecológico de consumir esta bebida. Uso café de comércio justo, de uma marca nacional.

Restrinjo o uso de enlatados. O atum, que antes gastava imenso, depois de ver que estava na lista vermelha, restrinjo-o.

Alguns pecados que ainda não consegui evitar - Nectar de pacote, leite pasteurizado, coca-cola, chocolate e açúcar refinado.

É claro que esta forma de nos alimentarmos dá um pouco de trabalho, perde-se algum tempo nas compras e no manuseio dos alimentos. Escolher verduras, armazenar , confeccionar dá mais trabalho do que servir-me de algo pronto. 
Mas sei que no fim, ganho a parada e isso reflecte-se na minha vida. Gasto pouco em farmácia, será reflexo da alimentação? Em grande parte creio que sim! 

Esta forma de alimentação também é mais amiga do ambiente:
- Menor produção de lixo, pelo restrito uso de embalagens.
- Menor emissão de gases, pelo menor gasto de combustível utilizado no transporte dos alimentos e pelo menor consumo de carne (a criação intensiva de animais é uma das maiores responsáveis pela produção de gases efeito estufa).
- Consumir produtos biológicos contribui para a melhoria da fertilidade do solo.  

Poderia ficar aqui o resto da noite a escrever, mas gostaria de publicar isto ainda hoje, no âmbito da Teia Ambiental.

A receita de hoje, já foi publicada anteriormente aqui


Vou só descrever a forma como os ingredientes foram adquiridos:
Batatas, da horta dos meus pais, que fica a cerca de 15 Km de distância de minha casa.  
Beldroegas, erva daninha comestível colhida por mim, de um terreno, quando vinha  para casa, à pé, depois do trabalho.
Cebolas,  mais uma produção da horta paterna
Azeitonas pretas, de produção portuguesa, compradas à granel, na feira local.
Azeite extra-virgem, puríssimo, quase um néctar dos deuses, comprado a um pequeno produtor local.
Sal, marinho, de produção artesanal portuguesa.
Vinagre de arroz, de um produtor português(este, tive que ir olhar o rótulo)
Outra receita do género:

18 comentários:

  1. Lina, adorei este post! Tão certo, tudo o que dizes. Também me preocupo em trazer para casa os alimentos mais adequados, de maneira a proteger-me a mim, a minha família e o planeta. Por acaso, a última receita que publiquei foi de sopa de beldroegas da minha horta. E amanhã é dia de Biofontinhas (a horta biológica onde adquiro quase todos os legumes e vegetais que consumimos). Só não consigo resistir à carne e ao peixe. Um beijinho e bom fim de semana.

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  2. Lina,
    está maravilhosa a tua cuidadosa explicação sobre a origem dos alimentos. Algumas práticas eu já desenvolvo há tempos, outras preciso aprimorar.No tocante ás aves, não tenho a mesma sorte que vc e é com dificuldade que consigo frangos caipiras, mas mesmo assim tento toda semana.Tenho critério com as frutas e legumes da estação, mas nunca pensei nas espécies que vem de países mais necessitados. Vou adotar essa prática.
    Como é rica essa nossa teia que alinhava tão boas contribuições,como a tua.
    Bjos e bom fim de semana.
    Calu

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  3. Oi Lina, obrigada pela visita. Amei sua postagem. Você é privilegiada, não quer dizer que eu não possa trabalhar para ser também. Moro em cidade grande, com poluição, alimentos caros, tudo errado. Então procuro fazer o máximo possível. Economizo água. Vou trabalhar a pé. Compro alimentos orgânicos (são poucos). Produzo a menor quantidade possível de lixo! Isso tudo me deixou mais alerta! Não fiquei carente de coisas. Fiquei alerta e com mais vigor e energia. Ah! e reduzi o consumo de comida em casa também. Faço mais compras (a pé) e consumo menor quantidade.

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  4. Simplesmente adorei sua postagem, Lina !!!
    É muito bom encontrar pessoas conscientes que fazem o que dizem, buscando, cada vez mais, melhorar sua participação na vida do planeta.

    E que sorte você tem em poder ter esses alimentos das hortas familiares !

    Só agora coloquei minha postagem na Teia, pois o dia foi corrido !
    Também estou colocando as participações.

    Beijo

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  5. Hummm...quem dera que pudéssemos sempre dar este carinho à nossa comida do dia a dia...

    belíssima exposição do assunto...e muito apetitoso seu prato...

    e batatas faz muito bem a saúde... e muito gostosa... um abraço, adorei sua casinha...
    deu para sentir o aroma...

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  6. Lina
    gostei de ler este seu post, é tudo uma grande verdade, mas ás vezes dificil, para quem não tem acesso a produtos próprios e comprar tudo biológico, fica um bocado caro, eu cá em casa tento também ter algum cuidado com a alimentação, mas há coisas que não consigo.
    Dos produtos vendidos em mercados por pessoas que dizem ser de produção própria ainda desconfio mais do que os que têm a verdadeira origem estampada, porque muitas vezes são pessoas ganaciosas que cultivam dois lotes um para si próprias e outros cheios de pesticidas e rações sem qualquer controle, para ir vender ao mercado e sei isto por conhecer casos...
    Mas vamos tentando escolher o melhor dentre as opções, sempre é melhor que nada;-)

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  7. Lina, gostei muito de ler o teu post. Sempre saudável e consciente. Também tens muita sorte em ter uma horta na família como eu! Cada vez é mais difícil alimentarmo-nos bem e pensando na saúde do planeta.
    Um beijinho.

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  8. Olá Lina. Gostei imenso do teu post. Poderia subcrevê-lo e assiná-lo eu própria.Ainda hoje eu e um grupo de bloggers cá da ilha, a Ilídia, a Elvira, a Manuela, a Susana e a Diana, fomos ao Biofontinhas, uma quinta biológica e viemos carregadinhas de produtos vários. Sabemos que são legumes e frutas saudáveis por isso quando podemos vamos lá. É certo que são um pouco mais dispendiosos do que os provenientes da agricultura convencional, mas a saúde deve estar em primeiro lugar.
    Quanto à receita desta salada, adorei o pormenor das beldroegas. Tenho cascatas delas à volta da minha casa, que nascem espontanamente, mas ainda não me atrevi a utilizá-las. Deve ser devido ao facto de ter sido criada a vê-las como ervas daninhas.
    Beijinhos
    Bom fim de semana.
    patrícia

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  9. Olá quidinha,
    este mês acho que vou ficar fora da Teia, no entanto ainda tentarei publicar nos próximos dias...

    Ando um cadito com vista cansada e senti necessidade de afastar-me do computador durante uns tempos. Embora não o consiga fazer quando estou a trabalhar.

    Por falares em atum... sabes que adoro atum enlatado? Adoro mesmo! Saladas com atum então, nem se fala!! Mas NÃO COMO.
    Primeiro, para evitar a tentação, não compro.
    Depois, mesmo que vá a um restaurante que não tenha vegetariano, continuo a evitar o belo do atum.
    Custa-me saber que está em vias de extinção!
    Na lista vermelha como dizes.
    É muito importante testemunhos como o teu.
    Beijinhos.
    Rute

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  10. Muito importante o tema abordado por vc. Nossa alimentação é essencial para vivermos bem. Vc é abençoada por ter a oportunidade de consumir alimentos naturais. Mas infelizmente acabamos sendo impelidos a consumir produtos processados em função do tempo de preparo. Aqui em casa temos optado pelo consumo maior de frutas. Moro em uma cidade muito quente, então esse tipo de alimentação acaba sendo prazeirosa. Muita paz!

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  11. Olá, querida
    Vou ao Hort Fruit e vejo tudo isso que fala em relação aos alimentos acontecendo... tudo ensacado... pronto e cheio de agrotóxico...
    Bjm de paz e ótimo Domingo

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  12. Tüm yazdıklarına katılıyorum büyük şehirlerde işimiz çok zor. Sevgiler.

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  13. Oi, Lina:
    Que riqueza de depoimento!
    E dizer que a maioria das pessoas, em todo o mundo, faria careta para o teu cardápio.
    Como é difícil para um vegetariano escolher o que comer nos grandes centros urbanos. E pior ainda nas cidades do interior, onde a carne vermelha é o prato principal.
    Os chefs famosos criam pratos para carnívoros, e nós, ingênuos vegetarianos, ficamos a nos sentir como peixes fora d´água.
    O progresso trocou a qualidade pela facilidade, o alimento industrializado tomou o lugar do que é natural, o fast-food é a preferência infantil e a obesidade é quase inevitável.

    Ou a humanidade desperta enquanto ainda há tempo, ou...
    Abraços ecológicos, parceira da Teia.
    Gilberto.

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  14. Lina, bom dia!
    Gosto destes posts que reflectem o caminho de cada um, são muito autênticos e são estes que vão inspirando uns e outros!
    Olha, já vi que os livros surtem efeito em ti, tenho um "remédio potentíssimo" para a tentação do açúcar branco, o livro "Sugar Blues". Se quiseres, envia-me um e-mail com a tua morada que eu empresto-te via correio e quando acabares de ler devolves-mo.
    Muitos beijinhos e belos dias para ti!
    Isabel Matos

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  15. Também tenho um "remédio potentíssimo" para deixares de comprar garrafas PET (refrigerantes).
    Vê neste link como podes produzir facilmente a tua própria coca-cola:
    SODA MACHINE

    As garrafas utilizadas na máquina são sempre as mesmas, dai estares a poupar o ambiente, já que uma garrafa de xarope dá para 12 litros de refrigerante.

    Estes produtos há à venda nas Wortens.
    Beijinhos com gás.
    Rute
    P.s.-(o 1ºlivro que a Isabel me emprestou foi esse Sugar Blues)

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  16. Ah, ah!!! Estamos umas "receitadoras" (de remédios! Que receitas culinárias sempre houve em abundância por aqui...) :)
    Muitos beijinhos!!!
    Isabel

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  17. Sugar Blues a caminho! Aguarda! :)
    Podes continuar a comer compotas e doces caseiros "na boa", vais é estudar como fazê-las com açúcar integral (é só substituir o branco pelo integral e apurar um pouco a quantidade, que pode variar), o trabalho maior é descobrir quais os açúcar integrais e onde comprá-los.... ;)
    Mil beijinhos
    Isabel Matos

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  18. Concordo plenamente com a forma como compras os teus bens alimentares . Também tenho sorte de ter um quintalzinho em casa que me permite obter alguns vegetais e frutos da época , quanto aos restantes alimentos também tenho preferência pelos biológicos , e integrais obviamente (acho que se nota isso no meu blog :p) Fazes muito bem em "perder" tempo na procura de alimentos verdadeiros , eu também o faço , mas se fosse possível o mundo deixar de correr e começar a pensar nas suas escolhas alimentares o planeta teria uma distribuição de bens muito mais justa ...

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