domingo, 15 de maio de 2011

Aprendendo a voar

Antes de começar a ler,  espere a música tocar... também faz parte da mensagem.

"A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar.
Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o importante, não era comer, mas voar.
Mais que tudo, Fernão Capelo Gaivota adorava voar. 
Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre as outras aves.
Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinhos, a experimentar, fazendo centenas de voos rasos."
Na adolescência, como quase todos nós, fui como Fernão Capelo Gaivota, o personagem do livro de Richard Bach, à descoberta da melhor maneira de voar. E o meu voo, deu-se pela descoberta da leitura. Para mim, como para Fernão, os livros não serviam apenas para aprender o básico na escola, eram muito mais do que isso, faziam-me voar, imaginar outros mundos, outros rostos e sobretudo aprender, aprender e aprender cada vez mais... Passava horas e dias a fio, sozinha a "voar"com os livros. Qualquer tema servia, lia tudo o que me caía às mãos, panfletos, revistas, livros...A biblioteca era o melhor sítio do mundo. É claro que essa maneira de ser não me fez muito popular entre as outras "aves" e inclusive entre os membros da família, que me achavam um pouco esquisita, mas a atracção pelo conhecimento era mais forte do que eu...
"Vou sentir a tua falta, Fernão - foi tudo quanto disse.
Henrique, que é isso? - exclamou Fernão, reprovador - não sejas tolo! Afinal, que tentamos nós aperfeiçoar todos os dias?
Se a nossa amizade está dependente de coisas como o espaço e o tempo, quando finalmente os ultrapassarmos, teremos destruído a nossa irmandade.
Ultrapassado o espaço, tudo o que nos resta é Aqui. Ultrapassado o tempo, tudo o que nos resta é Agora. E entre o Aqui e Agora, não achas que nos podemos encontrar uma ou duas vezes?"
A verdade é que eu não era muito popular na escola, não jogava bem ao voleibol, não ligava patavina aos ídolos da moda, não usava as sapatilhas de marca, mas tinha amigos, poucos, mas tinha...
E as nossas conversas eram muito filosóficas ou não...Gostávamos de traduzir as letras do John Lennon, escrevendo-as em cadernos com recortes, ou interpretar as poesias do Vinicius, ou discutir por uma causa humanitária: a seca no Nordeste Brasileiro, a desigualdade social, aprender os sinais do alfabeto dos surdos, coleccionar selos, papel de carta, tantas coisas...e tudo era muito intenso, pois as hormonas nos faziam fervilhar, como um rebentar de folhas na primavera ou como uma gaivota a descobrir o voo. E embora, eu tenha perdido o total contacto físico(o Aqui) com esses amigos, foram estes momentos que ficaram e que formaram o ser o que sou (o Agora), e por isso estou sempre a encontra-los na curva de um voo...
Na adolescente que fui e que fomos todos(e que serão os nossos filhos, netos, sobrinhos...)não passávamos de gaivotas que queriam aprender a voar, que "fugiram"da gaiola dourada da infância para descobrir o mundo...As maneiras de voar são muitas e muitos são os que se atrapalham pelo caminho. Com amor, compreensão e confiança o voo é mais fácil e já que por lá passamos, a lembrança não pode ser apagada, temos que ser aquele que espera, aquele que observa o voo daqueles que estão a aprender e quem sabe aprender também uma outra maneira de voar...porque afinal estamos sempre em eterna evolução.

Bem, depois de uma mensagem tão filosófica, e apesar de gostar de voar, também gosto de comer, por isso a receita de hoje leva sardinha, para uma gaivota esfomeada e que amanhã vai a um piquenique:
Bolo de sardinha 
Para a massa, bater no liquidificador, os seguintes ingredientes:
12 colheres de sopa de farinha de trigo 
3 ovos inteiros
1 chávena de chá de óleo
1 colher de chá de sal
2 colheres de sopa de fermento
2 chávenas de chá de leite
Deitar metade da massa numa forma de bolo inglês untada e enfarinhada. Por cima deitar o recheio, constituído por cebola cortada às meias luas, 1 lata de filetes de sardinha em azeite(sem pele ou espinhas) e salsa picada. Deitar o resto da massa. Levar ao forno 180º C até cozer, cerca de 30 minutos.

E foi esta a minha participação na Blogagem Colectiva Fases da Vida: Adolescência


31 comentários:

  1. Olá, querida
    "Na ternura de um amanhecer,
    Eu observei a beleza do orvalho".
    (Sandra)

    Gostei muito da referência ao vôo da adolescência... ainda que rasante...
    Me sinto voando muitas vezes quando a ela me remeto... por pensamento ou circunstâncias...
    Me atrapalhei muitas vezes sim... mas me recuperei muitas outras... é a vida e isso faz parte do ciclo evolutivo do ser humano... como vc muito bem disse...
    Muito bom!!!
    Bom piquenique!!!

    "...é o molhar do orvalho quem vê meus passos...
    é minha vida me chamando pra viver"
    ( Fractais de Calu)

    Tenha um excelente Domingo de paz e alegria.
    Bj com gosto de adolescência (o lado bom dela).

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  2. Lina,
    A associação entre a sardinha e a gaivota ficou perfeita!
    Que bela lembrança a de Fernão Capelo Gaivota e que bom você ter sido como ele, para quem não bastava comer, o mais importante era o saber!
    Os livros têm esse poder de nos levar longe, nos enriquecer, nos fazer voar.
    Uma ótima participação!

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  3. Lina,
    E que bela participação! Ganhamos em conhecer parte de vc...em um período q por vezes é complicado de se lembrar...mas nos deu uma aula de como é ser gaiovota, de como ser diferente em época onde todos querem ser iguais...diferente para melhor. A leitura é um grande auxílio!
    Gostei muito de sua postagem!
    E da receita, claro! Mto prática e com carinha de saborosa...
    Um bejim grande no seu coração!

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  4. Lina, sabe que eu quase citei Fernão Capelo Gaivota na minha blogagem? Como era delicioso ler , filosofar, ouvir Vinicius de Morais. Muito bacana e fiz uma viagem legal escrevendo também. Lina narrativa! Meu abraço!

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  5. ESSE BOLO DE SARDINHA FICOU EXCELENTE.
    BOM DOMINGO
    BJS

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  6. Fernão Capelo também marcou minha adolescência...lindo!!
    E esse bolo de sardinha deve ter ficado fantástico!!
    beijkas

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  7. Uau!!!
    Gostei muito do seu post! Também fui e sou apaixonada pelos livros e sou fã do Richard Bach, li quase todos os livros dele.
    Apareço aqui vinda do blog da Rute, Publicar para Partilhar, que é minha amiga, e sou a Isabel do blog "A Escola É Bela", também aparticipar hoje com um post, nesta blogagem colectiva das Fases da Vida que é muito interessante e enriquecedora.
    Um grande abraço!
    Isabel

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  8. Ai que fixe, a ligação do tema com Fernão Capelo Gaivota e a sardinha como repasto das gaivotas que sobrevoam mares imensos, em horizontes sem fim.
    Agora percebo porque nos damos tão bem! O meu animal Totem é a gaivota. Minha biblia o livro de Richard Bach. Porque eu também nunca fui, nem sou como as outras gaivotas que simplesmente vivem para tarefas rotineiras e sem sentido.
    Minha bussula é sem duvida, aumentar conhecimento e voar alto, libertar-me do espaço e do tempo, viver o aqui e agora encontrando-me com almas especiais como a tua, na curva dum vôo.
    Lindo texto, linda mensagem!
    Deixo-te aqui 1 link relacionado com gaivotas:
    Se eu fosse uma gaivota...

    Beijinhos e daqui, vou para outra praia, em vôo picado!
    Rute

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  9. Que lindo texto Lina querida, é a mais pura verdade, todos nós passamos por isso, querendo voar, alcançar novos rumos, descobrir, novas paisagens, e aprender muito como os experientes, nessa fase tão difícil, cheia de interrogações e conflitos.parabéns pelo post.
    Qto ao seu bolo de sardinha, ficou lindo na nessa forma, adoro sardinha,e com certeza ficou uma delicia. Um ótimo domingo pra vc amiga...bjocas

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  10. É incrível, lendo as histórias postadas nessas blogagens, encontro várias facetas muito parecidas com minhas vivências. Como vc, tb adorava ler, tb era solitária. Adorava os livros de Monteiro Lobato, li todos. Era amiga da bibliotetária e religiosamente trocava o livro emprestado toda semana.
    Esse jeito mais fechado me fez ter muitas dificuldades mais tarde, mas tive sorte ao conhecer professores q me ajudaram a quebrar a "casca". Muita paz!

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  11. Lina, bela blogagem! Os primeiros voos são desajeitados, mas depois a gente melhora e até consegue voar direitinho :-)
    Adorei a receita, parece apetitosa.
    Beijos!

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  12. Amei a postagem com estes voos, dos quais falo com outra linguagem...Muito bom.Parabéns!!!
    Minha participação está no blog Rumos Libertadores: http://rumoslibertadores.blogspot.com
    Comente e concorra a um livro pela loteria federal ,até o dia 28/05

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  13. Que delícia de participação...

    Na adolescência todos realmente queremos mais é voar. Aliás, precisamos ter asas sempre,nõ?

    Adorei ver e te ler e a receita, perfeita e muito boa! Deu vontade!

    beijos,linda nova semana,chica

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  14. Adorei, Lina !

    E entendo perfeitamente, pois sempre fui uma devoradora de livros e revistas ! Assim como v. eu também não me enquadrava nos padrões usuais, mas tinha umas poucas amigas.
    Nossa diferença é que eu sempre fui incentivada a ler, pois meu pai também adorava e sempre vivi cercada de livros.

    Parabéns pelo belo texto do lindo livro !
    Beijo

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  15. filosofar da uma fome!!!! rs obrigada pela visita! beijo

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  16. Adorei o texto! Mesmo, muito!

    Quanto à receita... deve ser uma delicia, já está guardada!

    Beijos.

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  17. Amo o livro "Fernão capelo gaivota". Um colega da época da faculdade me apresentou e me apaixonei.

    Passa lá no meu cantinho porque tem sorteio!!!

    Bj e ótima semana.

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  18. Lina,
    Vim agradecer e retribuir a visita.
    Adorei o post.
    E se pudesse, teria alçado voos como o seu.
    A leitura enriquece a alma, e quem me derá ter essa paixão.
    Na escola também não fui popular, e sempre me senti inferior as outras amigas endinheiradas, mas vendo o esforço dos meus pais para pagar as contas, só me restou ir a luta.
    beijos

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  19. Perfeito seu texto, eu também adoro voar com os livros. Com eles aprendemos a alçar nossos voos tal qual a gaivota que vai além do alimento. Uma delicia sua receita. Uma ótima semana. IEDA.

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  20. Que lindo como contou...Assim começamos nossa vida, desajeitados, mas o tempo vai nos apereiçoando e nos tornamos mestre na arte de voar.
    paz e bem

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  21. Lina,

    Que lindo! Você me fez lembra o Fernão Capelo Gaivota.
    Menina, eu não consegui me lembrar de muitas coisas de minha fase, mas lendo os depoimentos de vocês, parace que estou revivendo tudo na minha mente.
    O importante é sempre estarmos tentando, um dia, acertamos o vôo. Essa é a nossa vida.
    Linda participação.
    Beijos

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  22. Olá Lina, gostei muito de seu texto e reflexões, mais ainda dessa deliciosa tortinha.
    Como uma linda gaivota que sou, já peguei meu pedacinho...rs!
    Bjuss!!!

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  23. Que mensagem rica. Você me fez lembrar muito bem da minha época. Eu levava para escola discos dos Beatles e também tentava traduzir. Não era popular, não tinha roupa de marca mas fui marcante para muitas pessoas e elas para mim.
    Parabéns,

    Elaine

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  24. Hum... mamãe fazia um bolo de sardinhas delicioso! Peguei sua receita para testar!
    Naquele tempo, podíamos tudo, até perder tempo olhando para as gaivotas a voar, almejando também voar por aí!
    A diferença daquele tempo para agora é que o mundo agora gira mais rápido. Não temos tempo para um sentar no banco da praça, sem agenda prévia! Hoje já saímos com tudo programado e já como pressa de retorno. Amadurecer é assumir responsabilidades! Beijus,

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  25. Oi, Lina!

    Curti demais a sua adolescência... muito bom. Recordei tanta coisa da minha história... e como eu queria voar... e sonhava em voar muito alto, kkk
    Você, era uma garota de conteúdo, batalhadora,e encantadora...

    Beijos, amiga
    Socorro Melo

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  26. Muita boa participação Adorei ler seu post e realmente o jovem adolescente quer é liberdade, voar e descobrir o mundo. Gostei da comparação com a gaivota.

    Agora antes de sair só tenho a te dar os parabéns porque este Bolo de sardinha esta com uma cara apetitosa.

    Beijos

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  27. Lina, que maravilha a citação de Fernão Capello
    Gaivota, alçando vôos, como nós fazemos na adolescência, fizestes uma bela analogia. Parabéns.

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  28. Oiee....que adolescência gostosa com acesso a cultura, e achei fantástica o casamento da gaivota com sua experiência de vida.
    Deus te abençõe.
    bjss♥

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  29. Lindo! Que magnífico voo até à adolescência! :)

    Eu também adoro ler, p. ex. li "Os Maias" 3 vezes, o que é uma coisa que choca muito os alunos, a maior parte deles nem uma vez lê, lêem só o resumo para ficarem com uma ideia...

    Ah, e ODIAVA voleibol, ah mas como odiava! :)) e de basquet tb não gostava lá muito... aliás, as aulas de Ed. Física para mim eram quase sempre um suplício, a não ser que fosse mesmo ginástica e não jogos.

    Quanto ao bolo de sardinha, adorei! Até me está a saber bem!
    bjs

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  30. Este post está muito bem encadeado! Uma história muito gira, não conhecia essa do Gaivota ^^ e eu adoro ler =P

    Espero que o piquenique tenha corrido bem (com esse bolo deve ter corrido xD)

    beijos

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  31. Meu Deus! Adorei a utilização de Fernão Capelo Gaivota!
    Muito bacana!

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