Estava com 5 claras no frigorífico à espera de serem gastas. Resolvi aproveitar para fazer um bolo, mas não um qualquer, um inventado por mim!(Havia uma jovem à espera do amor…para sair das garras de um pai austero há que aproveitar a existência do grupo de jovens da Igreja para expandir amizades e poder sair com gente de sua idade). Retirei as claras do frigorífico e deixa-as repousar por 30 minutos para que ficassem à temperatura ambiente. Coloquei-as na taça da batedeira junto com uma pitada de sal.(O ambiente do grupo era saudável, alegre e leve. E estava sempre a entrar gente nova…numa das reuniões apareceu um rapaz moreno, magro e de olhos escuros que se fixaram com insistência naquela jovem desde o primeiro instante…). Liguei a batedeira e as claras começaram primeiro a espumar. Quando ficaram firmes e brancas como a neve, resolvi juntar-lhes 5 colheres de sopa de açúcar amarelo, tive receio, será que irão permanecer firmes? Não seria melhor juntar açúcar refinado? Mas eu queria algo mais natural… Juntei, então, com calma, 1 colher de cada vez e a mistura continuou homogénea, firme, de cor bege claro.(Ao longo do tempo os olhares foram sendo correspondidos, começaram as conversas…os amigos dele notaram o interesse…e as amigas dela também…e naturalmente o namoro começou. Para a jovem, até aquele momento os amores tinham sido platónicos, não correspondidos, ora pelo objeto de sua afeição, ora era ela o objeto que não correspondia à afeição de outro. Foi a primeira vez que houve encontro de interesses, e isto era uma grande novidade!). Até agora estava a correr tudo bem, mas o bolo precisava de substância, então acrescentei, também aos poucos, sem pressa, 5 colheres de sopa de amêndoa moída, uma de cada vez e a massa continuou uniforme, com uma textura maravilhosa. Desliguei a batedeira e adicionei 1 colher de sobremesa de fermento em pó, misturando levemente com uma vara de arames.(Era um namoro doce, alimentado pelo romantismo da juventude, por ramos de flores, por prendas no dia dos namorados, pelo grupo de amigos e festas de garagem, tudo muito sereno, que a liberdade não era muita…). Untei uma forma de chaminé com óleo em spray e polvilhei-a de farinha de trigo. Verti com cuidado a massa e coloquei o bolo no forno pré aquecido a 170ºC. Nesta hora hesitei, deixo o forno quente ou diminuo a temperatura? Ia observando, ansiosa, pela janela do forno, a evolução do bolo e vi, com alegria que ele estava a crescer! (Muitos dos encontros aconteciam no autocarro, ele ia para o trabalho e ela para a faculdade, havia entrado para o 1º ano, outra novidade que surgiu em sua vida e tudo corria muito bem!) O bolo ia crescendo, mas algumas dúvidas surgiram, tenho que verificar se já está cozido, será que ao abrir a porta do forno, murchará? Se eu deixar tempo demais não ficará seco? Então, abri, de-va-ga-ri-nho o forno e espetei rapidamente um palito e ainda saiu massa agarrada, fechei a porta e aparentemente o bolo continuou lindamente a crescer. Distraí-me uns momentos, e quando olhei pelo vidro, vi o desastre! O bolo murchou! (Aparentemente tudo corria bem, mas era só aparência…A vida dela era um corrupio e começaram os exames, os fins de semana de estudo, não havia tanto tempo para os encontros românticos. Para ele a vida era a mesma rotina de sempre e o pequeno monstro dos ciúmes foi crescendo em seu coração, foi tomando forma. A doçura transformando-se em amargura. Até que ele lhe fez um ultimato: Ela tinha que escolher - ou ele, ou os estudos, senão estava tudo acabado! O coração dela ficou pequeno, o DESENCANTO tomou conta do seu ser, pensou no pai austero e no que a sua vida iria futuramente se transformar, outra pessoa a tolher-lhe a liberdade seria impossível tolerar! E tudo acabou! Refletiu que amor é aquilo que constrói, é a mistura de dois seres que crescem juntos, embora as contrariedades, não aquilo que está dentro de uma gaiola, alimentado com mimo, mas preso! Jurou, que nunca mais procuraria o amor, que se a sua alma gémea existisse, algum dia o acaso as juntaria, nem que para isso tivesse que VOAR PARA LONGE!)
Fiquei chateada! Tanto tempo a vigiar, tanto cuidado na confecção e o raio do bolo murcha! Então ri-me e pensei: não tenho mesmo jeito para receitas muito temperamentais, demoradas, detalhadas, que prendam demais a minha atenção. O que eu gosto mesmo é de uma boa receita sem frescuras, daquelas que resultam numa massa consistente, que mesmo que haja um pequeno engano, que eu abra a porta do forno antes da hora, o bolo cresce na mesma!
E o mesmo acontece com o amor verdadeiro, cresce, mesmo com as contrariedades da vida!
Se alguém quiser experimentar esta receita, agradeço que me contem o resultado ou se acham que faltou alguma coisa para que desse certo. Para quem ficou meio desiludido e quiser tentar uma receita sem frescuras, aqui no blogue, na etiqueta Bolos tem várias!
E com este meu DESENCANTO culinário participo na Blogagem Coletiva Amor aos Pedaços.
Confira aqui outras participações.
isso acontece mas mesmo assim amo seu blog!
ResponderEliminaracompanho todos os dias o blog!adoro!!!
http://deliciasdaisa.blogspot.com.br/
Um dos melhores posts que já vi neste mundo de blogs. Adorei a junção de um amor falhado à de uma receita falhada. Demorei um pouco a perceber, mas depois li com prazer tanto a receita tanto a historia. E sim, o amor é muito como as receitas...essa pode ter corrido mal, mas aprendeste muito com isso e a próxima irá correr melhor...esperemos que sim pelo menos :)
ResponderEliminarParabéns, adorei :)
Olá, querida
ResponderEliminar"Tu és o orvalho que me beija"...
(Meliss)
Em pleno período pascal nos reencontramos para tecer o nosso Desencanto... entrelaçar partilhas de coração a coração...
Que graça de paralelo estabeleceu com a vida culinária e a vida afetiva!!! Estupendo!!!
Gostei da metáfora do bolo murcho pro Desencanto... é assim que nos fica o oração: murcho... sem graça... mesmo com os ingredientes do afeto, da ternura, da compreensão muito bem colocadinhos... não dá um bom resultado...
Menina, vc foi perfeita!!!
Bolo e encanto tem tudo a ver pois o peixe morre pela boca... é um ditado antigo para as namoradeiras que queriam prender a presa.... rsrsrs... Parabéns!!!
Obrigada por sua participação e nos vemos no próximo mês se Deus quiser!!!
Bjs de Paz e Esperança junto com o meu carinho fraterno
"Meu coração orvalhado
pleno de gratidão,
agradece a Deus"...
(Élys)
MInha querida LIna, na vida nao ha que desistir... é sempre a tentar, ficou mal a primeira vez... experimentamos a segunda, nao ha receitas com frescura... nós é que temos a frescura de nao desitir... (eu nao desisti... tenho 2 filhos, levantei-me limpei o pó dos joelhos e fui á luta)!!
ResponderEliminarGostei muito da tua historia, e é para mim uma honra ter-te como amiga!!
Beijocas
LOL, de vez em quando acontece.
ResponderEliminaracho que já aconteceu a toda a gente.
mas o sabor, esse sim, devia estar lá.
Beijinho
Interessante a sua postagem. Esse bolo misturando sentimentos encantos e desencantos. Gostei.
ResponderEliminarUm abraço e bom domingo.
Muito, muito bom, tambem não gosto de receitas tão detalhadas rs, bela postagem
ResponderEliminarbeijos
Se tivesse feito minha participação nessa fase, como cheguei a pensar, também seria pelo desencanto de uma mousse de manga, que ficou linda, mas o sabor e a textura (esqueci de peneirar) deixaram a desejar...rs!!
ResponderEliminarAdorei a associação do desencanto com o bolo, perfeita!
Bjs.
Gente, que habilidade literária! De todos os textos que li até agora, foi sem dúvida meu favorito! Parabéns!
ResponderEliminarOlha o meu aqui: http://migre.me/8GBkK
GOSTEI DO TEU POST , TEM MUITO JEITO PARA ESCREVER.
ResponderEliminarO BOLO APESAR DE BAIXAR ESTA LINDO NA MESMA, ISSO A MIM ACONTECE-ME MUITAS VEZES.
BOM DOMINGO
BJS
Belíssimo texto!
ResponderEliminarBoa semana.
Beijo da Nita.
Minha amiga, fui lendo bem devagar, com muito medo do resultado me decepcionar, o que não posso mentir: aconteceu...mas a desilusão nos dá forças, assim como se faz um bolo novo, as pessoas encontram forças para começar de novo, e de novo, e quantas vezes for preciso...o milagre de estar vivo.
ResponderEliminarMuito lindo seu texto,
Meus cumprimentos!
Tô maravilhada com seu estilo! Adorei ler sua postagem, super inteligente!
ResponderEliminarbjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
Adorei o post!tão criativo,muito bom de se ler!
ResponderEliminarAbraço e uma ótima semana,=)
Genial Linda :)
ResponderEliminarConseguiste passar para o blog os dialógos interiores da nossa mente. Acontece-me isso com frequência, estar na cozinha e em simultâneo voar com o pensamento. E geralmente, o "bolo" murcha nessas alturas, porque faltou energia no presente, pois nós estavamos dividindo nossa energia, algures, entre o passado e o futuro.
Muito bem conseguido o efeito.
Revi-me em cada lição. Também eu, pensei e repensei, se era suposto substituir a autoridade materna/paterna pela autoridade matrimonial. Para mim Amor é liberdade de ação. Desde que haja confiança, não faz sentido o ciúme.
Beijinhos encantados com a tua participação.
Rute
P.s.-Estou muito feliz com mais esta fabulosa coletiva! Delirando de contentamento com as magnificas prestações.
Estou encantada com seu conto e a associação com a feitura do bolo. Menina, ficarei por aqui. Me vi em vc fazendo bolo e tendo as mesmas indagações! Sou assim fazendo bolo e é triste vê-lo murchando. Parabéns! Grande abraço!
ResponderEliminarLina, maninha! Que encanto o teu texto sobre o desencanto! Eu bem digo que tu escreves mesmo bem, adorei a forma como contaste as duas histórias, entrelaçando-as, resultam em música para a alma! Muito obrigada!
ResponderEliminarE muitos beijinhos, continua sempre a deliciar-nos...
Isabel
Lina que bela participação, essa associação que vc deu a algo que deu errado na culinária e algo que pudesse ter dado errado se vc não tivesse alçado vôo. Muito linda, emocionante
ResponderEliminarCada vez me admiro mais com sua bela arte em escrever com o coração. Amei. Parabéns Lina. Bjos uma excelente semana
Ah quanto ao bolo acontece,nada como o simples para que as coisas simplesmente dêem mais certo.
Lina,
ResponderEliminarque sequência perfeita vc criou com a massa, com as questões, com os acontecimentos sentimentais e ainda concluiu com clareza o desencanto do bolo-amor que não cresceu e nem cresceria devido às diferenças de temperaturas emocionais.
Amei estas receitas amalgamadas.
Bjkas,
Calu
Lina, adorei sua participação na blogagem! Ficou muito criativo as histórias entremeadas, uma de desencanto amoroso e a outra de desencanto culinário, rs. Com as devidas proporções, o desencanto sempre dói! Um beijo!
ResponderEliminarO café foi saboroso, isto, é a sua participação na Blogagem sobre o desencanto encantou-me.
ResponderEliminarBons sonhos, rrss
Oi, Lina,
ResponderEliminarAchei muito interessante a associação que você fez dos dois desencantos, realmente, o amor verdadeiro cresce com as contrariedades da vida!
Estes bolos cheios de ar, como é o caso das claras "armadas", são delicados e enganam a vista, pois demoram um pouco para que fiquem firmem, apesar da aparência, rsrs. Contudo, deve ter ficado muito saboroso, não?
Bejoca!
Olá Lina
ResponderEliminarOs meus parabéns, ficou excelente o teu texto de histórias intercaladas e interligadas. Muito bom! :)
É mesmo um desencanto quando o bolo tratado com tantos cuidados murcha, mas muito pior é quando alguém tenta cortar-nos as asas. Isso é que é intolerável! Ainda bem que não de deixaste levar, porque atrás de uma atitude dessas vêm sempre outras ainda piores, e entra-se numa espiral. Imagina o estrago que era alguém a tentar cortar a tua criatividade! :)
Beijinhos, gostei muito.
Essa comparação do bolo com o amor e vida ficou linda. Escreves e contas muito bem. Gosto de te ler e esse desencanto deve ter ficado saboroso, tenho certeza... beijos,tudo de bom,chica
ResponderEliminarGostei da comparação do bolo com amor, tem tudo haver.
ResponderEliminarObrigada pela visita ao blog. Big Beijos
Lina, comecei a ler sua postagem e não consegui parar um só minuto. Muito me tocou a sua comparação ou a intercalagem que você construi entre o preparo de uma receita e a história de um encontro/DESENCANTO. E, muitas vezes é assim mesmo que acontece nas nossas vidas, achamos que para tudo tem uma receita ou, se seguirmos a RECEITA, tudo vai seguir bem. É engano. Um amor real. Uma paixão real não tem receita e não priva a liberdade.
ResponderEliminarObrigada pela visita. Adorei. Beijos e até breve!
Lina, muito boa sua participação. Gostei muito deste texto entrelaçado, contando duas histórias que bem poderiam ser uma só. Parabéns.
ResponderEliminarGrande abraço.
Lina, um conto com sabor, assim foi a sua participação. Achei interessante. E é assim não é? Quantos aparecem na nossa vida (ainda mais na juventude) e não passa de principezinhos mimados que querem que façamos todas as vontades dele. O amor cresce, até mesmo com a contrariedade, diferente de relacionamentos possessivos como o citado.
ResponderEliminarObrigada por sua visita e carinho no Lichia Doce.
Bjos
Oi Lina,
ResponderEliminarLindo o seu espaço, amei .Que interessantissimo seu conto!O amor vai além de simples empolgações, não é mesmo, ele prevalece até na contrariedade !
Beijo !
Gostei do paralelo que fez! Quem se prende as aparências ou as regras, não prova do melhor!! Tanto amor ou qualquer outro prazer da vida! Beijus,
ResponderEliminarSó agora pude ler na integra o seu texto, já tinha dado uma vista de olhos antes. O bolo parecia que ia ficar interessante e afinal definhou, tal como o namoro da jovem estudante... acho que ela fez muito bem em não aceitar mais ninguém a mandar nela, para ordens já bastava ter de cumprir as do pai (pois, já que ele pagava as despesas, não?). Esperta, essa moça.
ResponderEliminarBj
Que delícia de texto... amei!!!
ResponderEliminarNão pelo bolo, mas pela delicadeza de intercalar a receita e o feio do bolo com a vida da gente. Amei mesmo, parabéns!!!
Não vou copiar receita e muito menos me aventurar a fazer o bolo. Sou péssima nisso!! hahahahahahaha...
beijosssss
O desencanto pode ter acontecido no bolo imaginativo e na menina de pai austero, mas o post em si ficou muito "saboroso"! :)
ResponderEliminarFantástico!!!Amei como postastes seu desencanto com o amor e com a sua receita...Mas com o tempo a gente melhora na receita e as cicatrizes amenizam...O tempo sempre é o melhor remédio!!!
ResponderEliminarDesculpe meus comentário atrasado!!!
Paz e bem